Numa frase poderei dizer: A arte da escrita ao serviço da preocupação cívica.
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“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”
Esta é a frase de abertura para o livro e que representa a Cegueira Branca.
Os personagens não são identificados pelos seus respectivos nomes, mas sim pelas suas profissões ou por uma característica marcante, pouco importa o nome.
Retrata o mundo com as contradições da espécie humana, não se situa em nenhum tempo específico, pode ser ontem, hoje ou amanhã.
Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra. Uma cegueira coletiva, uma cegueira branca.
Todos os indivíduos contaminados pela cegueira branca são isolados e internados num manicómio abandonado, porém, a única pessoa que não contraiu a cegueira é a mulher do médico, que esconde esse fato dos outros.
Nesse ambiente irão passar por diversas situações consideradas subhumanas, vivendo como bichos, em que o instinto se sobreporá à razão e à dignidade humana.
Com cenas de estupros e assassinatos, a obra mostra-nos uma face podre da sociedade que, mesmo estando em uma situação caótica, ainda deseja subjugar a vontade dos mais fracos de modo que seus desejos sejam atendidos.
Passado certo tempo, os cegos, já vivendo fora do manicómio, enfrentam a carência da cidade que fora roubada, assim os moradores que encontraram as suas casas ocupadas foram obrigados a viver como nomadas, à procura de alimentos, água e abrigos pelas ruas. Conforme a cegueira chegou repentinamente, aos poucos desaparece.
Saramago mistura o discurso direto com o indireto, dispensando recursos como parágrafo, travessão e aspas. O discurso direto fica entre vírgulas e para não confundir muito o leitor, usa letras maiúsculas para o diferenciar do indireto... no inicio estranha-se, depois entranha-se.
Um estimulo ao nosso sentido crítico para que o consumo das coisas que nos rodeiam seja pleno e consciente.
Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Saramago obriga-nos a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez e resgatar o afeto, essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu.
Apesar de na maioria das vez o indicado é ver o filme primeiro e ler o livro depois aqui não aconcelho a ver o filme antes de ler o livro, pois desta forma estarão perdendo a oportunidade de conhecer por completo uma das metáforas mais bem trabalhadas sobre a sociedade contemporânea.
Boa leitura!
Teresa S.